quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

HOMEM JOGA ÁGUA FERVENDO NAS PARTES ÍNTIMAS DE MULHER POR NÃO ACEITAR FIM DE CASAMENTO NO AC

Mulher permanece internada em hospital de Rio Branco sem previsão de alta. Suspeito foi indiciado por lesão corporal e liberado pela polícia.


Por Tácita Muniz, G1 AC — Rio Branco
Mulher está internada com queimaduras de terceiro grau e sem previsão de alta médica — Foto: Arquivo pessoal Mulher está internada com queimaduras de terceiro grau e sem previsão de alta médica — Foto: Arquivo pessoal

A cuidadora de idosos Agerlândia Miranda, de 25 anos, teve queimaduras de terceiro grau nas pernas e partes íntimas causadas pelo ex-marido dela, Jessé Nogueira. O caso ocorreu no último dia 12 no município de Sena Madureira, interior do Acre.

A vítima foi transferida para a capital acreana e está internada no Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb) sem previsão de alta. O G1 não conseguiu contato com Nogueira até a publicação desta reportagem.

Agerlândia conta que durante uma briga, o ex-companheiro jogou água fervendo em cima dela. Ainda muito abalada, ela diz que a agressão foi motivada por ciúmes e porque Nogueira não aceitava o fim do relacionamento.

Como o ex não trabalhava, Agerlândia arcava com todos os gastos da casa. Um dia antes do crime, ela decidiu dar um ponto final na relação porque as brigas eram constantes entre o casal.
“Um dia antes disse que queria terminar, expliquei meus motivos e disse que para pagar as contas que tínhamos arranjaria um trabalho à noite. Fui à uma lanchonete trabalhar como atendente e na volta parei na casa de um amigo. Ele foi até lá, perguntou que horas eu voltaria para casa e disse que eu pagaria ele”, conta a mulher.

A vítima tem três filhas, de 10, 9 e 2 anos. As duas mais velhas são de outro relacionamento. Com medo do que ele poderia fazer com as meninas, ela voltou para casa após a ameaça.

Na terça-feira (12), Agerlândia seguiu a rotina normalmente. Saiu para trabalhar e perto do almoço foi surpreendida pela ligação da filha mais velha informando que Nogueira havia saído com a bebê de dois anos e que as outras meninas não teriam o que almoçar. Ela, então, voltou para casa.

No mesmo dia, o ex-marido mandou mensagem para a irmã da vítima pedindo que ela saísse de casa.

“Eu disse que não sairia de casa, porque ele [ex] sempre vivia às minhas custas e eu disse que ele que tinha que sair. Ele disse que queria que eu morresse e quando eu estava na porta do quarto, ele me empurrou, veio para cima de mim, segurei no pescoço dele e minhas filhas começaram a gritar desesperadas”, conta.

Casal estava junto há três anos e Agerlândia havia decidido terminar o casamento — Foto: Arquivo pessoal
Casal estava junto há três anos e Agerlândia havia decidido terminar o casamento — Foto: Arquivo pessoal

‘Escolheu onde ia queimar’
Toda a briga aconteceu na frente das crianças, que pediam ajuda sem sucesso. Ao chegar na casa, Agerlândia disse que viu a leiteira no fogo, mas não imaginava que seria para machucá-la.

“Fiquei sem saber qual das minhas filhas eu ia acudir. Até que vi ele se aproximando com a leiteira fumaçando, me afastei e coloquei a minha mão para tentar me defender, mas ele escolheu o local para jogar a água fervendo. Ele jogou, tentei me defender de novo e ele jogou mais água”, relembra emocionada.

As filhas da cuidadora entraram em desespero e Nogueira conseguiu fugir, enquanto ela e as duas crianças seguiam para o banheiro e jogavam água fria para tentar amenizar as queimaduras, que atingiram, principalmente, as partes íntimas de Agerlândia.

“Eu não aguentava mais de dor. Fui tomar banho e o pior de tudo é saber que isso foi na frente das minhas filhas, que ficavam dizendo que eu ia morrer”, lamenta.
‘Foi covarde’

As filhas da vítima conseguiram ligar para o avô, Aldemir Miranda, de 45 anos, que estava em uma oficina próxima de onde tudo aconteceu. Ele chegou em seguida e conseguiu acionar a ambulância para ajudar Agerlândia.
Revoltado, ele diz que espera que Nogueira seja preso e pague pelo que fez com a filha dele. “Uma pessoa ver a filha queimada, na situação que eu vi, se tremendo toda, o couro caindo. Não é todo pai que aguenta ver o que vi. O que ele fez foi uma covardia. Aquilo não é coisa que se faça com uma mulher”, desabafa Miranda.
Mulher diz que o suspeito escolheu local onde iria jogar água — Foto: Arquivo pessoal
Mulher diz que o suspeito escolheu local onde iria jogar água — Foto: Arquivo pessoal

Água em formigueiro

O caso foi registrado na Delegacia de Sena Madureira e o inquérito está sendo presidido pelo delegado Marcos Frank. Ele conta que o Jessé Nogueira se apresentou na delegacia da cidade três dias após ter cometido o crime e alegou que foi um acidente.

“Ele disse que estava com uma panela de água quente na mão, ia jogar no formigueiro e ela foi bater nele e, por acidente, foi se defender e a água caiu em cima dela”, conta o delegado.

A vítima e o pai contestam essa versão e alegam que o crime foi premeditado. Os dois estavam juntos há 3 anos e, segundo Agerlândia, o suspeito não quis aceitar o fim. Ela disse ainda que já havia sido agredida por Nogueira quando estava grávida da filha mais nova e não teve coragem de contar para a família.

“Acredito que ele fez de propósito, porque um dia antes eu tinha falado que não ia dar mais certo e ele disse que eu ia pagar ele. Poderia ter jogado a água em qualquer outro canto, mas ele escolheu minhas partes íntimas", afirma a vítima.

Lesão corporal

O suspeito foi indiciado por lesão corporal e, após ser ouvido, foi liberado. Porém, o delegado disse que as investigações continuam. “Se apresentou com o advogado e tratamos o caso como lesão corporal. Ele foi ouvido e liberado, mas o inquérito não terminou. Pelas fotos que vimos, a situação da vítima foi muito grave”, explica.

Para tentar amenizar o trauma, Agerlândia também recebe acompanhamento psicológico no hospital em Rio Branco. “Eu quero que ele seja preso e pague pelo que fez. Ele foi um covarde”, diz a vítima.



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